Hoje faz nove anos que nos casamos!
Tivera conhecido a mais de 20!
Aspirei-te por tantas noites e dias...
Deixei de passear e abandonei certos sonhos!
Dediquei-te quimeras e realizei-me em tua dureza.
Então agora me vejo diante de um vazio constrangedor, porque me abandonaste à sorte.
Vagando pelo Limbo dos descontentes e decepcionados.
Perdendo cada vez mais meu tempo em tentar te entender.
Foi a mais enganadora e ilusória utopia.
Um Pleonasmo em tristeza e chofre.
Estrada esburacada de mau caminho e desemboque.
Viste teus membros e teus filhos a me defenestrar(*) a existência.
Instruíste seus asseclas no infortúnio da desgraça alheia.
Desorientas-te teu staff no amor humano e calor dos ossos.
Jogou esse amor pelo ralo da inexistência.
Tirou todos os passos e arranhou as impressões digitais.
Me traiu, me traiu, traiu minhas certezas.
Teus filhos me humilharam e fizeram que eu duvidasse de minhas próprias ramificações, desconheci meu semblante no espelho, disfarcei meu sorriso e desaprendi a dança da alegria boba, do abraço de descompromisso.
Perdi meus parceiros mais amados, porque tu arrancaste minha cabeça e eles já não me reconhecem.
Sim até duvidaram que eu seria capaz de sorrir de novo sem ti.
Pensaram que eu iria abandonar meus dentes, até tu imaginou que eu fosse matar o melhor de mim.
Pois quero dizer que todos se enganaram, inclusive eu.
Existia vida lá fora, sem ti e tua falsa sensação de proteção.
Sem o monetário, a alimentação e a saúde.
Sobrevivo ainda a ti e o teu despejo.
Aprendi com teu desapego, fortaleci com teu chute, envernizei a cara na tua porta fechada.
Hoje sobrou muita mágoa e muita precaução.
Nunca mais devo me entregar a um só barco, confiar em um só prato, dormir apenas em um só lençol.
Nunca deveria me arriscar em um só destino.
Tu me mostraste que eu era e sou muito mais forte do que todos nós imaginávamos.
Posso até continuar caminhando, em pés descalços e mãos vazias.
Hoje faz nove anos que me entregaste um anel de aliança.
Que nunca aprendeste a honrar!
Quero ser Cazuza e não Matusalem, quero ser Senna e não Rubinho Barrichello!
(*)Verbo
de.fe.nes.trar, v.t.d.
- ato de atirar algo ou alguém pela janela
- (Figurado) eliminar (p. ex., politicamente) alguém; demitir expressamente; marginalizar; excluir